berço dos dinos

FOTOS + VÍDEO: centro na Quarta Colônia é referência no estudo de fósseis

da redação*


Foto: Renan Mattos (Diário)

A curiosidade de saber como viveram e qual foi a origem dos gigantes animais que dominaram a Terra durante muitos anos intriga o ser humano, tanto que já inspirou muitos filmes de ficção científica ao redor do mundo. E não é sem razão: os dinossauros viveram em todos os ambientes terrestres e seus rastros são encontrados até hoje, inclusive, aqui na região. Descobertas paleontológicas feitas por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e estrangeiros apontam que a origem desses extraordinários seres está bem debaixo dos nossos pés, nos depósitos de fósseis do período Triássico da era Mesozóica - quando surgiram dinossauros mais primitivos, os "avós" dos que vemos nos filmes.

E, desde 2013, a valorização da riqueza fóssil da região ganhou um aliado de peso: o Centro de Apoio à Pesquisa Paleontológica (Cappa), em São João do Polêsine. O local, que foi idealizado pelo Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável (Condesus) Quarta Colônia e é mantido pela UFSM, é uma referência nos estudos paleontológicos no Estado.

A paleontologia é a ciência que se dedica ao estudo de antigas formas de vida do planeta Terra, tanto animais quanto vegetais. A região central do Rio Grande do Sul é considerada um berço dos dinossauros no cenário paleontológico nacional, com fósseis de mais de 230 milhões de anos. Tem sido palco de grandes descobertas de reconhecimento internacional, em uma faixa com mais de 200 quilômetros, nos municípios da Quarta Colônia (principalmente Agudo, Faxinal do Soturno e São João do Polêsine), em Santa Maria e São Pedro do Sul.

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O coordenador do Cappa, o paleontólogo Leonardo Kerber, explica que, mediante notificações prévias, é possível que pesquisadores realizem estudos utilizando os materiais do Centro ou saiam para pesquisas de campo na região da Quarta Colônia. Porém, a política para descobertas fósseis visa proteger o patrimônio: as ossadas serão identificadas, guardadas e tombadas no Cappa.

- O mundo inteiro realiza pesquisas na área, e nós temos, aqui, a propriedade deste imenso patrimônio cultural-natural. As primeiras descobertas foram feitas com a abertura das estradas, mas, de uns anos para cá, com mais ferramentas e conhecimento científico, as descobertas aumentaram e, agora, conseguimos manter esses fósseis aqui na região - explica o coordenador.


Foto: Renan Mattos (Diário)
Coordenador do Cappa, o paleontólogo Leonardo kerber fala sobre o acervo e sobre a possibilidade de abertura do espaço a pesquisadores

Além de Kerber, mais três paleontólogos vinculados à UFSM são responsáveis pelas pesquisas no Cappa. O time conta, ainda, com cerca de 16 estudantes de graduação e pós-graduação da universidade, que auxiliam nas pesquisas.

- Trabalhamos com a premissa dos três pilares: ensino, com trabalho que fazemos com os estudantes; pesquisa, com os novos estudos e coletas de fósseis; e extensão, fazendo eventos e trazendo a comunidade para dentro do Cappa - relata Kerber.

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O prédio é composto por uma sala de exposições, onde os visitantes podem observar alguns dos fósseis encontrados na Quarta Colônia ou réplicas deles, salas onde são feitas as pesquisas e outro espaço onde são armazenados os fósseis mais frágeis que não estão expostos. 

TRÊS GRANDES DESCOBERTAS
Muitas pessoas que passam pela Quarta Colônia nem imaginam que, na, região foram encontrados alguns dos mais antigos dinossauros do mundo. Hoje, os fósseis estão expostos no Cappa:  

Bagualosaurus agudoensis - Animal herbívoro/onívoro, que chegava a medir 2m50cm metros. Foi encontrado em Agudo e estima-se que tenha vivido há 233 milhões de anos. Faz parte da linhagem dos sauropodomorfos, que inclui os maiores dinossauros conhecidos: quadrúpedes herbívoros de portes titânicos e pescoços compridos. O nome do animal faz alusão ao tamanho: entre outros usos, "bagual" é um regionalismo gaúcho usado para se referir a algo grande. Além de maior que seus parentes da época, que eram onívoros, o Bagualosaurus apresentava dentes adaptados para se alimentar de plantas


Foto: Renan Mattos (Diário)

Buriolestes schultzi - Animal carnívoro que chegava a 1m50cm. Foi encontrado em São João do Polêsine e estima-se que tenha vivido há 233 milhões de anos. O nome Buriolestes é uma homenagem a sítio Buriol, onde foram encontrados os fósseis. Já schultzi é uma homenagem ao doutor César Leandro Schultz do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).


Foto: Renan Mattos (Diário)

Siriusgnathus niemeyerorum - Animal herbívoro/onívoro, que chegava a medir 1 metro. Foi encontrado em Agudo e estima-se que tenha vivido há 233 milhões de anos. O nome que o bicho ganhou faz jus ao seu ar misterioso e esquisito: Siriusgnathus niemeyerorum, referência à estrela Sirius, a mais brilhante da constelação de Cão Maior, e ao bruxo Sirius Black, da série de livros "Harry Potter", que tinha o poder de se transformar em cachorro Já o "niemeyerorum" é uma homenagem à família proprietária das terras onde a descoberta foi feita, a Niemeyer


Foto: Renan Mattos (Diário)

COMO VISITAR

  • Onde - O Cappa fica localizado na Rua Maximiliano Vizzoto, 598, em São João do Polêsine
  • Quando - O local está aberto ao público de segunda a sexta-feira, das 9h ao meio-dia e das 13h30min às 17h, e aos sábados, das 9h às 17h
  • Atividade - Anualmente, em outubro, em data próxima ao Dia das Crianças, o Centro organiza o Paleodia. Na programação do evento, há caça ao fóssil, onde as crianças têm a oportunidade de serem paleontólogas por um dia e procurar por réplicas de fósseis de dinossauros enterrados na areia, outras brincadeiras, projeções de filmes e bancas de produtos coloniais
  • Informações - Para uma visita guiada em grupo, é preciso agendar pelo email [email protected] ou pelo telefone (55) 3269-1022

ETAPAS DO PROCESSO DE COLETAS
Para conseguir localizar e coletar fósseis, é necessário passar por, pelo menos, cinco etapas. Confira quais são:  

  • Prospecção - Análise do mapa geológico da região em busca de áreas formadas pelas rochas sedimentares, que contribuem para a conservação dos fósseis. Os paleontólogos, então, saem a campo e buscam os vestígios pré-históricos através do tato e observando o solo. Normalmente, partes de fósseis costumam ficar expostas após chuvas fortes 
  • Coleta - Para retirar o bloco de rocha que será levado para o laboratório, os pesquisadores escavam em volta do achado com uma margem de segurança variável estabelecida para não danificar o fóssil. Quando o bloco é isolado, se aplica um gesso no entorno dele para proteger o material
  • Transporte - A forma de transporte varia de acordo com o tamanho do achado, já que pedaços menores, com fósseis pequenos, podem ser transportados facilmente com o carro. Em outras situações, o bloco pode chegar a pesar algumas toneladas, sendo necessário o uso de maquinaria pesada, como guindaste e caminhão
  • Preparação - É a fase de separação do fóssil da rocha, com ferramentas como espátulas, marteletes e talhadeiras para desprender o fóssil da rocha. Devido ao cuidado para não danificar o fóssil, esse procedimento pode levar meses ou até anos para ser concluído
  • Curadoria - O fóssil é armazenado em um local apropriado de maneira organizada para que, em caso de estudos posteriores, sua localização seja fácil. Alguns fósseis são colocados em caixas de acrílico etiquetadas, que vão para uma estante dentro de um armário deslizador. Outros fósseis ficam expostos na mostra paleontológica do Cappa


Foto: Renan Mattos (Diário)

UM MUSEU INTEIRO SÓ PARA OS FÓSSEIS
Hoje, parte dos fósseis encontrados na Quarta Colônia fica armazenado em armários, para preservá-los e, também, porque não há espaço para a exposição de todas as descobertas no prédio do Cappa. Conforme a diretora de captação de recursos do Condesus, Valserina Gassen, estudantes de Arquitetura e Urbanismo estão trabalhando na criação de um projeto arquitetônico para a construção de um museu paleontológico ao lado da sede do Cappa.  

- Entendemos que é importante ter um espaço adequado para que os fósseis estejam à disposição da comunidade para visitação. Dessa forma, queremos fomentar ainda mais o turismo aqui na Quarta Colônia - explica Valserina.

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Ainda segundo a diretora, quando o projeto for concluído, ele será apresentado ao Ministério do Turismo para a captação de recursos. O objetivo do Condesus é conseguir R$ 2 milhões para a criação do museu.

- Já recebemos um aceno de aprovação do governo federal, mas ainda não está garantido. Estamos confiantes de que tenha novidades ainda neste ano - afirma.

*Colaborou Janaína Wille

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